Em entrevista, mulher relata que criminoso ameaçou atirar ao ouvir choro de criança: “quando minha filha chorou, ele puxou a pistola e disse ‘faça ela calar a boca”.
Moradores dos conjuntos habitacionais do Programa Minha Casa Minha Vida continuam a viver o drama de ameaças e expulsões das próprias residências por membros de facções criminosas. Elas se apossam dos apartamentos e os transformam em verdadeiros quartéis do crime.
Glairton Pires Barbosa Filho, de 32 anos, foi localizado no apartamento de uma outra mulher que havia sido expulsa no fim de julho. Com ele, foram apreendidos R$ 320 em dinheiro, drogas, balança de precisão e as chaves do apartamento de uma das vítimas.
Durante a operação, a Polícia foi surpreendida por outro casal que havia sido forçado a sair de casa. Com medo, eles não queriam mais voltar para o imóvel, apenas registrar o Boletim de Ocorrência.
Nesta segunda-feira(6), o Jornal Jangadeiro mostrou a história do casal que teria sido expulso de casa por Glairton. Sob ameaça de morte, os jovens foram obrigados a sair do apartamento, apenas 15 dias após terem recebido as chaves do imóvel, que fica no residencial Cidade Jardim I, no bairro José Walter, em Fortaleza. Eles foram expulsos somente com a roupa do corpo.
O casal só conseguiu buscar os móveis e eletrodomésticos com a escolta da Polícia Militar. Mas dois televisores já haviam sido levados pelos bandidos. O sonho da casa própria que se transformou em pesadelo.
Mas o Cidade Jardim I não é o único a enfrentar o problema. Em Fortaleza, quase todos os conjuntos entregues pelo programa Minha Casa, Minha Vida passam por situação semelhante, no Residencial José Euclides Ferreira Gomes, no Bairro Jangurussu, pelo menos 52 famílias foram expulsas entre janeiro e julho desse ano.
Um casal, que prefere não mostrar o rosto, diz que até os filhos foram ameaçados. “Quando minha filha chorou, ele puxou a pistola e disse ‘faça ela calar a boca”.
No mês passado, o secretário da Segurança Pública, André Costa, chegou a afirmar que elas poderiam voltar para os apartamentos. “O recado que nos damos é que aquelas pessoa que saíram de suas casas retornem para lá, e a Polícia vai garantir a permanência dessa pessoa”, comentou.
Mas os moradores ainda não se sentem seguros para retornar. Também no mês passado, o Ministério Público chegou a entrar com uma ação contra a Caixa Econômica Federal e o Governo do Ceará para garantir a reintegração de posse dos imóveis às vítimas. Até mesmo os procuradores receberam ameaças e não querem mais falar sobre o assunto. Esse documento mostra que o órgão constatou a instalação de câmeras e até drones pelos grupos criminosos para controlar o espaço dos residenciais.
Em nota, a Secretaria da Segurança informou que trabalha na expansão do policiamento 24 horas nos conjuntos habitacionais que são alvos de grupos criminosos. Segundo a Secretaria, atualmente existem 16 bases policiais, que devem ser transformadas em unidades integradas de policiamento. Até agora, 21 suspeitos foram capturados por envolvimento direto ou indireto nesse tipo de ação criminosa.
Na nota, a Secretaria diz estar à procura de outros suspeitos. A equipe de reportagem visitou nesta terça-feira (7) os dois residenciais citados, além do Jardim Castelão II, onde está situada a comunidade da Babilônia, e o novo perimetral, conhecido como Gereba. Apenas no último ponto foram vistos policiais. Mas, apesar da presença da polícia, o clima ainda é de tensão. Por medo de represálias, a população evita gravar entrevistas.
Fonte: Tribuna do Ceará
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