Fonte: G1/Ce |
Um casamento coletivo oficializou o matrimônio entre 30 internos do Instituto Penal Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II), unidade prisional localizada em Itaitinga, na Grande Fortaleza, e suas respetivas companheiras. A celebração aconteceu na manhã desta sexta-feira (6), na quadra do presídio, e teve direito a cerimônia com pastor e a presença de familiares convidados. É o segundo casamento em grupo realizado na unidade em um mês. Em agosto, 25 casais oficializaram a união.
Para o interno Guilherme do Nascimento, casar com a costureira Natália Alves, 31, com quem está junto há oito anos, foi "único e especial", mesmo acontecendo neste momento de sua vida. Ele está preso no IPPOO II há um ano e três meses e aguarda regime semiaberto. "Deus pôde proporcionar um momento desse tão especial. Estou gostando demais. Foi sempre um desejo me casar mas algumas circunstâncias vinham adiando, né? Mas deu tudo certo para acontecer dessa maneira tão bonita", relata.
Guilherme conta que pretende "mudar de vida" agora que está casado. "Enquanto isso só temos a visita. O amor com certeza é maior, quando a gente gosta, não são algumas barreiras que vão impedir", declara. Sobre estar preso e longe da mulher, ele encara com positividade: "É diferente? É. Mas a gente tem que suportar, eu estou pagando pelo que eu errei".
De véu, grinalda e vestido branco tradicional, Natália Alves disse sim para Guilherme mesmo com todas as dificuldades e a distância. "É difícil saber que é tanta dificuldade, tanta coisa que eles passam aqui dentro [do presídio]. A gente fica machucada mas entrega na mão de Deus. A partir de hoje é um momento diferente, o que eu mais quero é levar ele pra casa, vai chegar esse dia", desabafou a noiva, que afirmou, contudo, ser "a mulher mais feliz desse mundo".
Ressocialização
Segundo Nelson Massambani, pastor que celebrou a cerimônia e que trabalha há mais 35 anos dentro de presídios, o matrimônio é um marco na vida dos casais participantes. "A particularidade de um viver privado de liberdade e a outra viver em liberdade e eles firmarem essa aliança dizendo 'é isso que eu quero para nossas vidas' dá, pra mim, uma conotação muito clara de recomeço de história".
É o que pensa Matheus Pereira, de 24 anos, que está preso há sete meses. "O amor só aumentou porque eu tenho uma guerreira comigo", fala o interno sobre o companheirismo de sua, agora, esposa, Franciana Pitombeira Vidal, 31. Os casal está junto há cinco anos e só teve a oportunidade de casar nesta sexta-feira (6).
O mesmo vale para Elane Bastos, 30, e Wellington Moreira, 33. Eles estão longe um do outro há um ano de sete meses, em decorrência da prisão dele. Juntos há nove anos, o casal tem dois filhos, mas ainda não eram casados oficialmente. "O casamento é muito bom, né? A união para Deus. Mas antes disso já tinha amor, já tinha tudo. As dificuldades vêm, mas com fé em Deus a gente passa por cada uma", diz Elane.
Segundo Gustavo Abreu, gestor do IPPOO II, o casamento é essencial para a ressocialização dos presos. "A gente sabe que quando os valores familiares são resgatados, facilita demais que o interno não retorne ao crime. Ajuda quando ele tem uma base familiar sólida", pontua o coordenador da unidade.
Apoio
Com espaço da quadra cedido pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e permissão para entrar na unidade, familiares das noivas e dos noivos arcaram com os custos de decoração e comida. "Fizemos tudo para ajudar. A família toda se uniu para juntar dinheiro e pagar. É um momento muito importante, Deus me livre virar as costas pro meu filho", diz Ivonete do Nascimento, mãe do interno Guilherme do Nascimento.
Vilani de Brito não conteve as lágrimas quando os internos adentraram o espaço. Ela veio apoiar sua filha, que casou com interno. Ela ficou emocionada ao ver o genro. "A gente nunca imagina passar por uma situação dessas", comenta. "Não desistir e ajudar em tudo. Não é no local ideal mas é em nome Deus", pontua.
Fonte: G1/Ce
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