Motoristas que trafegam pelas rodovias estaduais e federais do Ceará se deparam com condições precárias, sobretudo no que diz respeito à pavimentação, sinalização e geometria da via.
Conforme pesquisa divulgada, ontem, pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), referente a 2014, houve um aumento da quilometragem considerada ótima no Estado, saltando de 50 Km no ano passado, para 195 Km neste ano, o que representa aumento de 290%. Porém, ainda assim, 76,5% das estradas foram avaliadas como regulares, ruins ou péssimas.
A situação mais crítica é das rodovias estaduais, com o alarmante índice de 94,6% das estradas consideradas regulares, ruins ou péssimas, enquanto as federais somam 67,1%. Em todo o Estado, foram avaliados 3.523 Km, sendo 2.331 de rodovias federais e 1.192 estaduais. Em relação à classificação do pavimento, a situação piorou se comparada ao ano passado. A avaliação passou de 52,3% regular, ruim ou péssimo para 58,4%.
Ranking
Na classificação nacional dos estados com estradas em ótimo estado de conservação, o Ceará aparece na nona colocação. Liderando o ranking está São Paulo, com 5.337 Km, seguido do Paraná (848 Km), Minas Gerais (787 Km), Bahia (517 Km), Rio de Janeiro (411 Km), Goiás (363 Km), Rio Grande do Sul (302 Km), Santa Catarina (197 Km) e Ceará (195 Km). Na classificação por região, o Ceará ocupa a segunda colocação, atrás apenas da Bahia. Sergipe, por exemplo, não tem nenhum quilômetro de rodovia em estado ótimo.
A pesquisa constatou também que 94,4% das rodovias cearenses são compostas por pista simples de mão dupla, totalizando 3.323 Km, e somente 196 Km são de pista dupla com canteiro central, barreira central ou faixa central. Em 65,9% das estradas foram apresentados problemas na condição da superfície do pavimento. Asfalto desgastado foi o principal problema identificado (53,4%), seguido de trincas na malha viária e remendos (10,5%), e afundamentos, ondulações e buracos (2%).
Em 72% de extensão das estradas avaliadas no Ceará, placas com limite de velocidade foram identificadas. Mas, em 11,3%, o mato cobria totalmente as placas, em 7,7% tinha algum mato cobrindo as placas e em 1,8% não existiam placas, aumentando a probabilidade de acidentes automobilísticos
Flávio Cunto, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC), comenta que, em termos de geometria da via, a segurança da rodovia está muito ligada à consistência do traçado. "Significa nós termos curvas de raios compatíveis, ou seja, não promover surpresa aos motoristas. Curvas de raios abertos e, de uma hora para outra, raios mais agudos. Isso é ruim para a expectativa de condução do motorista, que não tem uma expectativa média de velocidade, pois de uma hora para outra essas características são alteradas. Isso a gente encontra não só nas estradas do Ceará, mas do País inteiro", ressalta.
Segurança
O especialista afirma que a prevalência de pista simples automaticamente tem impacto na segurança, porque as ultrapassagens acontecem na faixa de sentido contrário. Isso, complementa, por si só já traz um perigo adicional para quem está conduzindo nessa rodovia. "Quando pega trechos com fluxo de veículos maiores, aumenta a probabilidade de acidentes, pois a chance de ter carros no sentido inverso é maior. O alto fluxo de veículos somado a aclives acentuados, diminui bastante o tempo de ultrapassagem e aumenta o risco de colisões frontais", explica.
Em relação à sinalização, Cunto reforça que trata-se de um dispositivo fundamental para uniformizar o comportamento dos motoristas. Ele alerta que é preciso evitar ao máximo trechos de rodovias em que a sinalização não esteja devidamente implantada. "Em alguns locais, ela até existe, mas não está devidamente mantida. São placas pichadas, com mato cobrindo. Deve haver um trabalho constante para que as sinalizações vertical e horizontal sejam devidamente mantidas", reforça.
Na visão de Jorge Soares, chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da UFC, o Ceará tem um projeto antiquado, que precisa ser revisto. "Tem várias ações que poderiam estar sendo realizadas pelo governo no que diz respeito à caracterização dos materiais de pavimentação, que mitigariam o problema da falta de qualidade dos pavimentos. Existe um ensaio de deformação permanente para misturas asfálticas, por que o governo não está exigindo?", indaga.
Para o especialista, não causa surpresa saber que as rodovias do Estado se deterioram mais cedo do que deveria. Entretanto, salienta que existem soluções para isso. Ele diz que o governo deveria encampar essas novas metodologias para ter rodovias de melhor qualidade.
Para saber quais políticas públicas vêm sendo desenvolvidas pelo governo em termos de rodovias, a equipe de reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa do Departamento Estadual de Rodovias (DER), mas até o fechamento desta edição as ligações não foram atendidas e nem retornadas.
Fonte: Diário do Nordeste
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