Viralizou a informação de que por volta das 19:30 de domingo o apartamento de Andreia Neves em Belo Horizonte estava em festa. Segundo o que emergiu, naquela hora Aécio recebeu um telefonema em que alguém lhe dizia que já estava com mais da metade dos votos válidos e já poderia ser considerado Presidente da República.
Sua filha Gabriela, sempre de acordo com o relato, fora as pressas para BH assim que soube que o pai abrira uma larga vantagem por volta das 17:40.
FHC ao tomar conhecimento da notícia já estava com tudo pronto para ir para Belo Horizonte.
No apartamento de Andreia o clima era de êxtase: abraços de parabéns pela sala e selfies com o novo presidente.
A festa foi subitamente interrompida as 19:32. Dilma tinha virado.
Depois do choque de realidade
Minutos antes, petistas temiam derrota e tucanos achavam que venceriam
Pouco antes das 20h de domingo (26), na biblioteca do Palácio da Alvorada, só a presidente Dilma Rousseff falava. Os poucos convidados que aguardavam com ela o resultado da eleição mantinham silêncio. Apreensivos, davam risadas nervosas com as brincadeiras que a petista fazia insistentemente.
A essa altura, naquela sala, só a presidente não tinha ideia do que a apuração dos votos indicava. Em Belo Horizonte, no apartamento da irmã mais velha do senador Aécio Neves (PSDB), Andrea, o clima era inverso. O presidenciável estava contido, mas seus convidados, eufóricos.
"Estamos na frente", disse Antonio Anastasia (PSDB), senador eleito por Minas e braço direito de Aécio. Com 88% das urnas apuradas às 19h25, o tucano liderava aquela que entraria para a história como a eleição mais acirrada do país.
Ninguém tinha informações oficiais. Para evitar vazamentos, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, José Antônio Dias Toffoli, isolou os 30 funcionários da área de informática responsáveis por totalizar os votos.
Todos ficaram trancados na sala de apuração, com os celulares desligados. Quando precisaram ir ao banheiro, por exemplo, tiveram a companhia de um segurança.
A poucos metros da sala, Toffoli estava reunido no gabinete da presidência do TSE com cerca de 40 pessoas, entre ministros, advogados das campanhas, representantes do Ministério Público e embaixadores estrangeiros que acompanhavam o pleito.
Todos na mesma situação que o restante do país, sem acesso aos números oficiais, embargados até as 20h de Brasília, quando as urnas no Acre foram fechadas.
ALVOROÇO PRÉVIO
Números parciais, porém, criaram alvoroço entre tucanos e petistas. Alguns dos que estavam com Dilma acharam por alguns minutos que ela tinha perdido. Ninguém teve coragem de falar. "Notícia ruim não se espalha", contou depois um membro da campanha. "Mal dava para respirar, mas nada chegou a ela."
Àquela hora, a expectativa de vitória no apartamento da irmã de Aécio fez com que aliados de todo o país viajassem para Belo Horizonte. Artistas, políticos e familiares se aglomeravam.
Por volta das 19h, o tucano conseguiu vantagem significativa. Às 19h32, porém, os funcionários isolados do TSE viram o jogo virar.
Em Brasília, Dilma estava apreensiva e tentava atenuar o clima brincando com seu cardiologista, Roberto Kalil.
A hora da divulgação oficial se aproximava e o clima de suspense se mantinha. "São os minutos mais longos da história", comentava um assessor de Aécio. Foram mesmo. O candidato do PSDB se juntou à família, aumentou o volume da TV e ficou em pé no meio da sala.
Abraçou a esposa, Letícia, a mãe, Maria Lúcia, e a filha mais velha, Gabriela. Às 20h02, o TSE liberou os dados. Aécio chorou. Dilma tinha 50,99%, e ele, 49,01%.
No Alvorada, petistas começaram a fazer contas: a apuração estava quase encerrada no Sul e no Sudeste. Faltava o Nordeste, e o Nordeste era Dilma. "Deu. Ganhamos. Não tem como reverter", escreveu um ministro numa mensagem no celular.
Na sala do apartamento da irmã de Aécio, outros choraram com o tucano. Rapidamente, ele se recompôs. Ligou para Dilma, reconheceu a derrota e partiu para o último discurso da campanha. "Cumpri minha missão."
Folha de S. Paulo
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